Tendo como pano de fundo o amor incondicional potencializado em época de pandemia, texto inédito traz à tona IDOSOS e LGBTQ+ com crônica de abertura na voz de GLÓRIA PIRES.
Depois de inovar criando a 1ª peça de teatro entre carros: “Amor no Drive-in Por Favor, Não Me Covid”, happening que teve repercussão nacional permanecendo em cartaz de agosto a outubro do ano passado, montado no backstage/estacionamento do Teatro-D, Darson Ribeiro retoma presencialmente a pauta de seu teatro com a comédia dramática A.M.O.R. DE U.T.I.
Segundo texto especialmente escrito por ele em período pandêmico. Se no primeiro a crítica vinha em tom de sátira às políticas de saúde e cultural, nesse a ênfase é na amorosidade necessária entre pais e filhos, ressaltando a velhice e expondo o preconceito familiar à homossexualidade.
Estreia no Teatro-D, com direção dele, sábado, 15 de maio, com sessões-almoço ao MEIO-DIA e também às 18h30, com happy hour entre as duas.
Assombrado com a imperatividade de ações de políticos e de parte da sociedade, juntada às informações precipitadas da imprensa sobre os teatros em relação à pandemia, e lutando para manter o seu recém-inaugurado Teatro-D, o ator e diretor buscou inspirações que vão de Albee (1928-2106) a Miller (1915-2005) mas, é principalmente, sobre o cuidado que teve para com o pai até o reconhecimento do corpo dele num hospital, em 2006, a origem de toda a escrita.
Nesse misto de experiências e ficção, A.M.O.R. DE U.T.I. é uma comédia dramática de sessenta minutos entre um psicanalista e um ator, numa experienciação única para quem vê, que fisicamente vai participar da trama. A começar pelos celulares que serão recolhidos na entrada à plateia.
“Meu texto não é teatro do absurdo. É realista e pungente. Mas, o nonsense do diálogo entre os dois vem justamente pelo lugar em que se esquece que se está: não é um ringue nem pista de esgrima nem de dança, mas, uma UTI. O pivô da batalha é amor faltante – aquele que dá a diretriz lá na primeira infância e que pode arruinar vidas. Que pode virar rancor. Não é o passado pelo passado, mas a consequência do hoje.”
Foi por meio de uma experiência única com meu pai que consegui transformar um estágio da vida que beira a absurdidade de Camus: o divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e seu cenário, fundindo dois gêneros maiores – a comédia e a tragédia num gênero único – a comédia dramática. Que nada mais é do que personagens contemporâneos com problemas contemporâneos que interessam diretamente ao espectador comum.
“Então, num paralelo com Albee, que no final dos anos cinquenta expôs ao mundo na peça “Zoo Story’ a representação formal do conteúdo sócio-histórico e econômico, sutilmente recorto essa narrativa num texto altamente debochado, bem-humorado e gostoso de se ouvir. O mundo pós-guerra, apresentado por ele não deixa de ser o nosso. Ou como o de Miller, cujo tempo é condensado no palco, onde problemas como as relações interpessoais são postas à prova. Um belo dia apenas esse porquê bate à sua porta e vem um cansaço vestido de espanto. O mundo deu ruim e a pandemia jogou isso na cara da gente”, completa.
Para Darson, o presente pandêmico potencializou (des) humanidades. Diante da falta de embasamento emocional, quem era ruim ficou pior. E a mídia sensacionalista faz questão de frisar isso vinte e quatro horas por dia. Principalmente quando se há comparação entre perdas e ganhos, fracasso e sucesso, agigantados pela homossexualidade ou pela velhice. Ambos solitários e ainda excluídos, afirma.
Aí, a guerra se instaura, independentemente do lugar em que se está – no caso uma UTI – que não deixa de ter certa analogia aos espaços culturais fechados há mais de um ano, desamparados e que vem recebendo atenção paliativa.
cena em que Júnior e Beto, fumam maconha em plena UTI
Paliativo é o que o texto apresenta inicialmente como única possibilidade de amor e que no decorrer, esse significado restrito e pejorativo ganha o multidimensional. Um velho pai (plateia) que simboliza milhões de idosos pelo mundo é o arquétipo de discussões atuais e pertinentes: emocionais, sociais, espirituais, e principalmente a desagregação familiar diante da homossexualidade de um dos filhos.
“Por isso fiz questão de fisicalizar o único profissional de saúde da peça sob a gene-trans. Participação especial na montagem de vários, conhecidos ou não do grande público. O público vai se identificar com a trama porque trata da maior necessidade hoje em dia: o amor. Seja ele de jovem, de velho, de hetero ou de gay, atingindo em cheio o humano. Principalmente porque todos nós estamos carentes de sentimentos “, conclui. Por isso quis salientar a neutralidade desse humano para os cuidados com o outro, inserindo a cada sessão, uma enfermeira-trans, que já tem participações especiais como Maitê Schneider, Glamour Garcia, Salete Campari, Paulette Pink, entre outras.
“O texto de Darson consegue ser a conta exata para dizer tudo. Mostra todos os conflitos familiares e a relação homofóbica entre irmãos de forma clara e lúdica. Para um psicanalista é um presente.” Sergio Kehdy, psiquiatra e psicanalista.
SINOPSE
O psicanalista Richard Rosencrantz-Guildenstern Júnior (Darson) é obrigado a retornar bruscamente de sua casa à UTI de onde acabara de sair por uma complicação de saúde do pai e dá de cara com o irmão mais novo Roberto Rosencrantz-Smith (Ken), que não via há nove anos. Antes mesmo de se cumprimentarem, preparam as armas. O duelo vai começar. Afinal, estão paramentados para tal luta-visitação. Esquecem onde estão e a razão de ali estarem e vão transformando ressentimento em amor numa batalha de histórias, palavras e silêncios, acusações e evasões, sentimentos e muito humor. Não há autoflagelação. Pelo contrário: o que vemos são sessenta minutos de uma intensa e debochada prestação de contas entre um homem gay e um homem hetero – maduros – dando início talvez – ao último resquício de dignidade para um mundo em transformação. De todos, inclusive do pai.
A peça tem abertura especialmente declamada por GLÓRIA PIRES e tem ainda a participação especial da soprano LAURA DE SOUZA.
Ficha técnica
Texto: Darson Ribeiro
Direção, Trilha, cenografia, Luz e Figurino: Darson Ribeiro
Elenco: Ken Kadow e Darson Ribeiro
Participação especial: vocal da soprano Laura de Souza e atriz Glória Pires
Suporte de movimento: Mayara Gentile
Fotografia: Walter Grieco (colaboração Danilo Apoena)
Designer Gráfico: Carlos Martinez
Diagramação, Web e Redes Sociais: Torino Comunicação
Edição/trilha: Lalá Moreira DJ
Montagem, Operação de Som e de Luz: Alison Marinho
Auxiliar de produção: Marco Alvarenga
Colaboração de Montagem: Rodrigo Souza
Assessoria de imprensa: Teatro-D adm@teatrod.com.br
Promoção exclusiva: ALPHA FM
APOIO CULTURAL: TNG, DIVINO HOSPITAR e BELGOTEX